Iniciativa visa conscientizar e despertar o diálogo sobre o preconceito no país
A Fundação Cultura de Barra Mansa, por meio do Conselho Municipal de Políticas de Promoção de Igualdade Racial (Comuppir), em parceria com o Centro Universitário de Barra Mansa (UBM), lança nesta sexta-feira (14), o vídeo “14 de maio”, que visa provocar uma reflexão sobre o dia após a abolição da escravatura no Brasil, celebrado nesta quinta-feira (13), despertando o diálogo e conscientização sobre o preconceito no país.
O vídeo poderá ser acessado no canal Fundação Cultura de Barra Mansa no Youtube e ilustra a música “14 de maio de 1888”, do autor barra-mansense Jocelio Maciel. A canção tem como inspiração e motivação o livro “Pós-abolição e cotidiano”, do professor Kleber Amâncio, da Universidade de São Paulo (USP), que faz um diálogo entre várias fontes que ajudaram a explicar para onde foram e como sobreviveram os libertos do 13 de maio e seus familiares.
A vice-prefeita de Barra Mansa, Fátima Lima, apontou a importância de incentivar o pensamento crítico sobre a data. “A escravidão deixou uma marca muito profunda na nossa sociedade. Quando refletimos sobre o período pós abolição, refletimos sobre as causas das desigualdades e do racismo estrutural, fatores determinantes na estrutura social do Brasil. A Lei Áurea não integrou o nosso povo. Enquanto as barreiras sociais e raciais não forem reconhecidas aos olhos do senso comum, não evoluiremos como sociedade”.
Segundo o presidente da Fundação Cultura Barra Mansa, Marcelo Bravo, o vídeo traz o tema através de uma nova ótica. “A ideia é despertar uma reflexão sobre o dia seguinte da abolição. Qual é a diferença do dia 14 de maio de 1988 para o dia 14 de maio de 2021? A escravidão foi abolida, mas e as relações trabalhistas entre empregado e empregador? Se transformaram, melhoraram, resolveram, se superaram? É muito interessante fazer essas perguntas e ter como resposta uma obra de arte audiovisual tão sensível”.
Bravo também falou sobre a concepção do vídeo, que buscou fugir do lugar comum sobre a data. “Para a campanha desse vídeo, nós buscamos fugir de estereótipos ou de conceitos convencionais relativos à abolição da escravatura. A ideia é apresentar de forma poética um tema difícil, controverso e importante. A gente quis imprimir uma sensibilidade subjetiva na composição do vídeo, fugindo de imagens de correntes, tortura ou grilhões, já que a letra já muito forte, potente e bonita. Tem os elementos muito característicos do que os negros produziram de sonoridade no Brasil”.
O autor da letra, Jocelio Maciel, falou sobre a inspiração para o “14 de maio”. “Várias temáticas étnico-raciais carecem de uma reflexão profunda, mas entendo que precisamos trabalhar junto à sociedade a compreensão de que a forma injusta como foi realizada a abolição da escravatura no país, sem qualquer tipo de indenização ou reparação, traz até hoje implicações e dificuldades na inserção do negro na sociedade. Por isso digo que a data que realmente marcou a história do povo negro no Brasil foi o 14 de maio, quando os escravizados já estavam livres, mas ‘corriam sem rumo pelo país, sem ter onde cair’, como diz um verso da música”.
Jocelio Maciel também destacou a necessidade de rever os conceitos da data histórica como ela é apresentada. “O dia 13 de maio é ensinado, de forma oficial, como o dia da abolição da escravatura no Brasil, mas é uma data considerada pelo Movimento Negro Brasileiro como uma ‘mentira cívica’, sendo ressignificada como um dia de reflexão e luta contra a discriminação. Acho fantástica essa capacidade que o movimento negro tem em ressignificar momentos e atitudes. O próprio termo ‘negro’, que há alguns anos era utilizado como um ‘xingamento’, hoje também foi ressignificado e é utilizado com orgulho por grande parte da população afrodescendente. Creio que este projeto de ilustrar a música com o vídeo e sua divulgação será fundamental no sentido de provocar a reflexão da sociedade sobre as incoerências e injustiças envolvidas no processo de abolição da escravatura em nosso país”.
O diretor de Extensão e Operações em EAD do UBM, Fernando Vitorino, contou como surgiu a ideia para a produção do material. “É uma alegria participar de um projeto dessa natureza. É o nosso compromisso social com a nossa comunidade apresentar as diferentes manifestações sociais e culturais que existem. Nós tomamos conhecimento desse material fantástico por meio de dois funcionários nossos, dois irmãos que são músicos também, e aí procuramos logo a Fundação Cultura para a gente externar isso para nossa comunidade e fazer desse um momento diferenciado. Sempre estamos juntos com o poder público e com a nossa comunidade”.