Ação visa estudar a história da escravidão negra no município. Comissão municipal sobre o assunto foi formada nesta quinta-feira (24).
Membros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil conheceram parte importante da história de Barra Mansa, através de uma visita guiada ao Centro de Memória e Documentação Fazenda da Posse, na tarde desta quinta-feira (24). A ida ao local tem como objetivo fazer um estudo sobre a trajetória da população negra na região, através de documentos que contém as memórias sobre a escravidão no município.
Participaram da visita o presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra do Conselho Federal da OAB, Humberto Adami, a desembargadora e diretora da Comissão de Igualdade Racial da OAB-RJ, Dra. Ivone Caetano, a presidente da Comissão de Igualdade Racial e Intolerância Religiosa da OAB-BM, Francyne Lima, a vice-prefeita Fátima Lima, a presidente do Conselho Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Silvana de Almeida, a gerente da Gerência de Promoção da Igualdade Racial (Gepir), Deviane Costa, e membros da sociedade civil. A visita foi guiada pelo gerente de patrimônio da Fundação Cultura Barra Mansa, Nikson Salem.
Durante a visita, os convidados visitaram o acervo, onde puderam ver documentos que retratam fatos importantes, como a listagem dos negros que passaram pela Lei dos Sexagenários, que concedia liberdade à população escravizada com mais de 60 anos.
O presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra da OAB, Humberto Adami, conta que Barra Mansa é o segundo município a ter uma Comissão da Verdade e da Escravidão Negra no Sul Fluminense e que o objetivo é, através destes documentos, tirar do anonimato heróis e heroínas da história negra do país. São 5.573 municípios buscando essa história no Brasil inteiro, através de prédios, locais, personagens, biografias e documentos. “A comissão da verdade visa buscar na história do Brasil a história negra, que foi afastada e que motiva até hoje um racismo cotidiano, por termos essa base escravocrata. Ainda há um seguimento da sociedade brasileira que insiste em esquecer e em não reconhecer esses fatos. Isso é esquecer a própria história do Brasil”, ressaltou Humberto Adami.
A vice-prefeita Fátima Lima apontou a importância que o resgate desses documentos e a formação da comissão têm para o município. “Para a nossa cidade é um avanço, entre outros avanços que Barra Mansa tem. Esse é, de uma certa forma, muito especial, porque a gente volta no tempo, em uma história que não é bonita, que mexe com as nossas emoções. É importante a gente ter esse resgate histórico. Muitos não conhecem a verdadeira história de Barra Mansa, então é o momento de contá-la”, pontuou Fátima Lima.
O gerente de patrimônio da Fundação Cultura Barra Mansa, Nikson Salem, explica a importância que o Centro de Memória e Documentação Fazenda da Posse tem para o município. O local é a primeira construção de Barra Mansa e foi erguida em 1768. “Aqui é onde tudo começou em Barra Mansa. Com a criação do Centro de Memória e Documentação Fazenda da Posse, em 2017, a gente pretende reunir nessa casa toda a documentação referente a história do município. Já temos aqui os primeiros livros de registro do cemitério São Sebastião, de pessoas livres e escravizadas, documentos do poder judiciário e do poder público, muitas imagens e jornais. Pretendemos ainda fazer uma campanha para que as pessoas doem documentos referente a história para ficar guardado”.
O Centro de Memória e Documentação Fazenda da Posse pode ser visitado de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h. O acesso ao local fica na Avenida Argemiro de Paula Coutinho, próximo ao Fórum, no Centro.
Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil é empossada em Barra Mansa
Na noite de quinta-feira (25) a vice-prefeita Fátima Lima, representantes da OAB, da Prefeitura de Barra Mansa e da sociedade civil se reuniram para debater a reparação da escravidão. Durante o evento, realizado na unidade da Ordem dos Advogados do Brasil em Barra Mansa, foi empossado os membros municipais da Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil.
Fazem parte da comissão o presidente Wagner De Oliveira Feliz Olavo e os membros efetivos Francyne Alves De Paula Lima, Margot Ramalhete De Almeura, Nikson Salem, Jordan Athoni Rosa, Leonardo Angelo Da Silva, Maria Eloah Bernardo, Silvana Maria Almeida De Carvalho, Silvani Pereia Gomes Ferreira e Thompson Climaco Alves.
A desembargadora e diretora da Comissão de Igualdade Racial da OAB-RJ, Dra. Ivone Caetano, explicou a importância dessa comissão. “É fundamental o resgate da memória de tudo que foi escondido, invisibilizado e deformado na história do negro nesse país. A função dessa comissão é retomar a memória. Atualmente é muito fácil dizer que escravidão é passado, mas ninguém fala isso para outros povos que passaram por holocaustos ou escravidão”, relembra Ivone Caetano.
A ideia de implantar a comissão no município veio do presidente da 4ª Subseção da OAB, Aloízio Perez. “A OAB tem aberto suas portas para a sociedade civil e em um evento, foi sugerido uma comissão para escrever essa parte da história de Barra Mansa. Acatamos o pedido e nomeamos a solicitante como membro efetivo da comissão. Eles vão resgatar parte da história de Barra Mansa e defender a sociedade”, concluiu Aloízio Perez.