Pessoas em condição de vulnerabilidade social relatam a importância do abrigo temporário de Barra Mansa

 

Acreditar no ser humano e nas suas potencialidades. Essa é uma das missões da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos de Barra Mansa, principalmente à frente dos programas que estão sendo desenvolvidos no abrigo provisório para atender pessoas em situação de rua, durante a pandemia do coronavírus e o inverno. Com aulas e orientações sobre panificação, artesanato e cultivo de verduras e hortaliças, os abrigados já vislumbram novas perspectivas de vida.

É o que relata um dos abrigados, de 31 anos de idade, durante um pequeno intervalo na produção de pães e bolos. “Eu estava na rua há alguns meses devido a conflitos em família. E ali não tem jeito, se você usa drogas, passa consumir com maior freqüência até chegar no limite da falta de amor próprio. E foi justamente nesse momento da minha vida que surgiu os cuidados necessários para não contrair o coronavírus. Sem ter para onde voltar e com medo de ser contaminado, vim para o abrigo temporário. Acredito que tudo na vida tem um propósito e o fato de eu, hoje estar aqui, me mostra claramente para onde eu não quero voltar. Através do acompanhamento no Centro POP e no Espaço Reviver, eu estou conseguindo vencer as drogas a cada dia desses dois meses que estou no abrigo”.

Ele completou: “Aqui também tive a oportunidade de participar da oficina de pães e receber orientações espirituais que tocaram profundamente e me mostraram a grandiosidade da bondade de Deus. Já consegui arrumar um emprego, não é na padaria, mas é o que precisava para resgatar minha autoestima. Outra ação muito boa foi a ajuda que recebi para tirar a segunda via dos meus documentos pessoais. Valeu a pena ter vindo pra cá. Aprendi que sempre é tempo de recomeçar”.

Próximo a horta, outro abrigado, relata o prazer que sente em lidar com a terra. “Para mim, o plantio funciona como um tratamento médico. Coloco o meu coração na distribuição das mudas na terra. É muito bom acompanhar o crescimento das verduras. Hoje, nós temos aqui cebolinha, salsinha, couve, alface, mostarda, jiló, pimenta, repolho, beterraba, batata doce e espinafre. Já estamos na segunda colheita”.

Sobre sua vida pessoal, o homem de 59 anos, diz que foi casado por quase duas décadas e após muitas decepções decidiu morar na rua. “Meus irmãos são de São Paulo e vivia com minha ex-mulher em Volta Redonda. Por causa dos desentendimentos e do álcool passei dois anos nas ruas, bebendo muito, e por pouco não perdi a vida ao ser atacado com uma barra de ferro por outra pessoa, também em condições de rua. Acredito que naquele momento, a mão de Deus tocou sobre a minha vida. Desde que estou no abrigo não tenho usado nenhum tipo de bebida. É assim que quero permanecer. Ter vindo para cá, foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido”

Por fim, quem revela a maneira como se sente acolhido no abrigo temporário é A.S., 47 anos, três deles vividos na rua. Uma de suas atividades preferidas é a pirografia em madeira, arte de decorar com marcas de queimaduras resultantes da aplicação controlada de um objeto de ponta aquecida. “Fui casado e tenho três filhos pequenos. Nos últimos tempos do meu relacionamento, eu e minha mulher nos drogávamos. Foram tempos terríveis. Nas ruas, eu cheguei ao fundo do poço. Hoje, entendo que o uso de drogas é uma doença e que preciso me cuidar. Essa atenção que tenho recebido no abrigo me fez dar novo significado em minha vida. Agradeço a cada pessoa da Prefeitura, do Grupo Acolher e de outras entidades por me enxergarem como ser humano. Isso tem feito toda diferença, já que nas ruas eu era invisível para a sociedade”.

ABRIGO – O abrigo temporário, instalado em março passado pela Prefeitura de Barra Mansa e o Grupo Acolher, no antigo Grêmio Nestlé, no bairro Santa Rosa, tem a finalidade de proteger pessoas em situação de vulnerabilidade social do novo coronavírus e das baixas temperaturas do inverno. Mas simultaneamente, visa resgatar o cidadão e devolvê-lo a sociedade. Nesta semana, 10 dos 19 abrigados, através da Prefeitura, conquistaram uma vaga de emprego em uma empresa terceirizada.

No local, são ofertados aos abrigados alimentação, orientações espirituais e oficinas de trabalho, como a panificação e a horta. Para se ter idéia do funcionamento das oficinas, neste sábado (11), sob as orientações  do coordenador do CREAS-BM (Centro de Referência Especializado em Assistência Social), Célio Carlos de Oliveira, foram produzidas 20 broinhas de caxambu e  86 pães de variados sabores, como calabresa e queijo e doce de leite com coco, além de broa de fubá recheada com goiabada e bolo de milho. Todos os produtos fora vendidos no mesmo dia.

A comercialização das verduras e hortaliças já rendeu aos abrigados aproximadamente R$ 1mil. A colheita está em sua segunda etapa. Com resultados animadores, a área de plantio já foi ampliada. A oficina de arte com pneus levou até aos abrigados noções sobre preservação ambiental, mostrando que eles também integram o processo da natureza.

 

 

Fotos: Chico de Assis