Programa visa oferecer tratamento diferenciado, digno e humanizado aos cidadãos com transtornos mentais e/ou uso abusivo de álcool e outras drogas que perderam vínculos familiares e residências

 

O ritmo de vida acelerado, os impactos causados pela pandemia e o uso de substâncias psicotrópicas, associados a outros fatores socioeconômicos e de saúde, têm refletido expressivamente no percentual de pessoas que apresentam transtornos mentais, temporários ou permanentes. Para tratar esses pacientes de forma digna e humanizada e, aos poucos, promover a sua reinserção na sociedade, a Secretaria de Saúde de Barra Mansa, por meio do Programa de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas, oferece os serviços como os Centros de Atenção Psicossocial, Ambulatório Ampliado, que funcionam de segunda à sexta, das 8h às 17h.

Dentro do programa existem também os serviços residenciais terapêuticos, onde cidadãos com longos anos de internação e que não possuem vínculos familiares ou até mesmo casas, passam a residir. Este serviço é diferenciado por ser a casa destas pessoas, que continuam seu tratamento (atendimento médico, psicológico e outros) nos Centros de Atenção Psicossocial de referência.

Ao todo, Barra Mansa dispõe de três residências terapêuticas, que funcionam, conforme explica a coordenadora do Programa, Maria Elvira da Cunha Franco Dias, como as casas, os locais de moradia dos cidadãos que apresentam transtornos mentais.

“No momento, 24 cidadãos estão morando nas unidades, sendo 18 homens e seis mulheres, de diferentes faixas etárias. As residências contam com uma equipe multidisciplinar formada por coordenador (profissional da área da saúde com nível superior), cuidadores, técnico de enfermagem e cozinheira”, detalhou.

A coordenadora frisou que as residências terapêuticas não são locais de tratamento de pacientes em crises, não são clínicas, mas, casas onde os moradores possuem um acompanhamento diferenciado, com atividades externas, como ir às compras em supermercados, feiras, lojas e fazer determinados passeios com acompanhamento da equipe. “É bom lembrar que todos os pacientes perderam o vínculo ou a referência familiar, não possuem mais referência para moradia”.

Os moradores das residências terapêuticas que apresentam transtornos mentais severos recebem atendimento no Caps II, localizado na Rua Cristóvão Leal. Já aqueles que têm problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas são atendidos no Caps AD, na Rua Pedro Vaz, ambos no Centro.

A residência terapêutica surgiu a partir da reforma psiquiátrica, substituindo os tratamentos fechados nos manicômios e dá oportunidade aos pacientes de conviver em sociedade. A portaria 106, de 11 de fevereiro de 2020, criou os serviços no âmbito do Sistema Único de Saúde, direcionado às pessoas com histórico de longa internação ininterrupta.

“Aqui em nosso município as internações no campo da psiquiatria, da saúde mental acontecem na Santa Casa, hospital de referência do SUS. Pacientes em crise são tratados neste ambiente, após a melhora, recebem alta hospitalar e devem ser referenciados aos Centros de Atenção Psicossocial”.

A coordenadora da primeira residência terapêutica criada no município, Maria Aparecida Alexandre Trindade, esclareceu que encaminhamento de pacientes para os serviços é realizado pela equipe multiprofissional do Caps, de acordo com o estipulado por leis e portarias do Ministério da Saúde, e com aval do Ministério Público.  Existe todo um processo de avaliação e adaptação a casa.

Ela destacou ainda que os profissionais da residência realizam um trabalho direcionado à divisão de espaços coletivos e construção de regras de convivência. “Aqui, a gente busca resgatar a dignidade, o respeito, assim como, os sentimentos e emoções Nossa proposta é tornar as relações humanas mais acolhedoras e que as pessoas, todas elas, possam ter liberdade de expressão e qualidade de vida, tratamento completamente oposto aos utilizados nas clínicas manicomiais”, concluiu.

SAUDADES DA FILHA

Uma das moradoras do local, de 30 anos, disse que em maio próximo completa cinco anos que chegou ao local e que gosta muito de arrumar seu guarda roupa. Revelou que tem uma filha de seis anos, mas que não pode ficar com a menina. A criança foi adotada. “Sinto muita saudade”.

 MUITO TEMPO NA RUA

Outra mulher, de 37 anos, também moradora da unidade há um ano e três meses, disse que gosta muito do lugar, de ver televisão e tomar banho. Mas, lembrou que morou muito tempo na rua. “Não quero voltar pra rua nunca mais. Alguns fins de semana visito minha mãe em Amparo. Gosto muito”